quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Junto à água
Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.
Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!
E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos
e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.
Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.
Manuel António Pina,
in Egito Gonçalves e Rosa Alice Branco (organização e selecção), Das Tripas ao Coração,
Porto, Campo das Letras, 2001
Manuel António Pina, com Álvaro Magalhães e Tomás Carneiro, são os convidado da próxima sessão das Quartas Mal Ditas, do Clube Literário do Porto, dia 26 de Novembro, subordinada ao tema "Cafés da Minha Preguiça".
Vale a pena ler a crónica de Manuel António Pina ("POR OUTRAS PALAVRAS"), inserta no JN de hoje e que prova, por a + b, que, no diferendo entre os professores e a Ministra da Educação, são eles quem tem razão.
Leiam-na aqui
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.
Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!
E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos
e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.
Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.
Manuel António Pina,
in Egito Gonçalves e Rosa Alice Branco (organização e selecção), Das Tripas ao Coração,
Porto, Campo das Letras, 2001
Manuel António Pina, com Álvaro Magalhães e Tomás Carneiro, são os convidado da próxima sessão das Quartas Mal Ditas, do Clube Literário do Porto, dia 26 de Novembro, subordinada ao tema "Cafés da Minha Preguiça".
Vale a pena ler a crónica de Manuel António Pina ("POR OUTRAS PALAVRAS"), inserta no JN de hoje e que prova, por a + b, que, no diferendo entre os professores e a Ministra da Educação, são eles quem tem razão.
Leiam-na aqui