quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Loa

Meu Menino Jesus dos triguinhos no prato,
Não enxugues a tua lágrima de vidro,
Não apagues a tua estrela de prata suspensa no quarto ainda morno,
Não deixes envelhecer os velhos tios de retábulo
Ajoelhado em torno:
Deixa estar as palhinhas urinadas no estábulo,
Que a chuva cheira bem e o pão tufa no forno.
Doira, Menino Jesus, aquele milho amarelo
Que o Joaquim Pacheco secou na escuridão do seu muro,
E manda um navio de nevoeiro
Pela primeira vaga que vires redonda e rebentada:
Tua mão outra vez a atira contra a noite,
Como se não tivesse batido nessa grande praia parada.
E deixa as minhas faltas à missa,
Esquece os pontos fracos da minha velha teologia,
E o orgulho, a razão, o materialismo passageiro…
Mandes tu pelo mar o navio de nevoeiro!

Vitorino Nemésio, Antologia Poética,
Lisboa, Círculo de Leitores, 1988

Foto in www.instituto-camoes.pt

Assim se retomam os textos relacionados com o tema NASCER, que adoptámos para este mês de Novembro, como preparação para os encontros poéticos da época natalícia. E, agora, sim, teremos poemas com referências directas ao Natal.