sábado, 1 de novembro de 2008

Ó minha infância!


Ó minha infância!

Acordava em sobressalto

porque todas as manhãs

o burrinho da carroça do lixo

parava à minha espera

ao dobrar da esquina.


O bispo de pedra, em frente,

repreendia-me, severo:

-Ora tenha juízo, menino.

Bichos e pessoas

não podem entender-se.


- Bispo de pedra! Bispo de pedra!

Foste tu quem ordenou

que também os homens se não entendessem?


João José Cochofel, Obra Poética,
Lisboa, Editorial Caminho, 1988