quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O filho é o carrossel...

O filho é o carrossel à volta da mãe

O carrossel no coração da mãe

A luz dos carrosséis e a música

E leva a mãe no seu cavalo

O cavalo gira à volta viúvo



A mãe é a festa sempre em luto

Por isso aviva a luz como quem mergulha nela

E conhece o escuro como quem já só faísca

Na criança

E procura um brilho, o metal que não oxida



Eles são uma roleta em voltas sucessivas

O tambor de um revólver

O estoiro de uma bala repentina



A viuvez é um buraco no centro da cabeça

A família é um buraco absurdo sobre a casa

- uma gruta sem acesso -

Há um cadáver nos olhos do acaso

Cheira a pólvora como o instante que dispara

E está imóvel como um dia sem saída



O carrossel tem um cavalo que galopa

O menino tem rédeas e espera

A idade da despedida



Daniel Faria, Homens que São como Lugares mal Situados,
Porto, Fundação Manuel Leão, 1998

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Foto in http://www.agencia.ecclesia.pt/ecclesiaout/snpcultura/impressao_digital_daniel_faria_2.html