sábado, 8 de novembro de 2008

Soneto da fiel infância

Tudo o que em mim foi natural - pobreza,
Mágoas de infância só, casa vazia,
Lutos, e pouco pão na pouca mesa -
Dói na saudade mais que então doía.

Da lamparina do meu quarto, acesa
No pequeno oratório noite e dia,
Vinha-me a sensação de uma riqueza
Que no meu sangue de menino ardia.

Altas horas, rezando no seu canto,
Minha mãe muitas vezes soluçava
E dava-me a beijar não sei que santo.

Meu Deus! Mais do que o santo que eu beijava,
Faz-me falta o cair daquele pranto
Com que ela junto ao peito me molhava.


Ribeiro Couto, Entre Mar e Rio,
Lisboa, Livros do Brasil, 1952

O autor nasceu em Santos- Brasil em 1898 e morreu em Paris em 1963. Jornalista, diplomata, poeta, romancista, sua obra mais conhecida é Cabocla (1931), romance várias vezes adaptado para televisão. Em 1958, conquistou, em Paris, o prémio internacional de poesia outorgado a estrangeiros, pelo livro Le jour est long , escrito em francês. Esteve em Portugal entre 1943 e 1946 e viajou pelo nosso país. Resultado disso foi o livro de poemas Entre Mar e Rio, que dedicou ao seu avô materno, que era lisboeta. Nele aborda aspectos da nossa história, quadros da nossa paisagem, cenas das nossas tradições e costumes.
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A foto é antiga. Tem quase quantos anos tenho... e o puto é parecido comigo.