Fala-me da infância o alecrim
crescendo em qualquer canto, junto ao muro,
junto à nora onde os bois, devagarinho,
sempre à roda, sempre à roda, iam fazendo
subir água do poço em latinhas.
E o rego da água sempre cheio
corria e abraçava o campo inteiro...
Fala-me da infância o luar
tão frio e tão bonito de Janeiro...
Na ausência de luar, a noite escura
sublinhava as estrelas pequeninas...
E o olhar perdido, ao regressar,
trazia muito mais serenidade...
Era tão bom poder olhar o céu
e acreditar em histórias de fadas
que alimentavam o sonhar...
Fala-me da infância o mar,
o canto da maré no entardecer,
espelho do sol... Sargaço a secar,
um par de namorados a correr
e a maresia a invadir o ar...
Falam-me da infância odores
que o tempo não levou, flores,
sons de risos, cânticos de sinos
que a saudade gravou nos meus sentidos.
Rosa Teixeira Bastos, Poder das Luas,
Gondomar, Arca das Letras, 2005
Nasceu em Penafiel num lugar que já não existe, por ter sido submerso pelas águas da barragem do Torrão.
Publicou, na Corpos Editora, o seu livro Horas, que se encontra esgotado. Os seus versos reflectem uma alma inconformista, fraterna e inquieta com o Mundo à sua volta.