quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Melopeia de Dezembro
A menina tinha fome,
Tinha frio o irmãozinho.
Louvado seja Deus, santo o seu nome!
O Pai Natal vem a caminho!
Na rasa tábua da mesa,
Não havia pão nem vinho.
Mais pobre é quem odeia, é quem despreza!
O Pai Natal vem a caminho!
Seca o leite à mãe viúva,
No murcho seio maninho.
Transformar-se-á em leite a água da chuva!
O Pai Natal vem a caminho!
Levantando em frente os braços,
Apalpa treva o seguinho.
Faça-se luz diante de seus passos!
O Pai Natal vem a caminho.
Ninguém vela o moribundo
No seu grabato de pinho.
Vai-se-lhe abrir, por fim, o Novo Mundo!
O Pai Natal vem a caminho!
Crucifica-se o inocente,
Perante o riso escarninho.
Sobe direito ao céu, corpo pendente!
O Pai Natal vem a caminho!
Sem chão, sem pão, sem paz, sem luz, sem ar,
Cada um morre sozinho.
Morrer será ressuscitar!
O Pai Natal tem bem que andar…
O Pai Natal vem a caminho!
José Régio, 16 Poemas dos Não Incluídos em “Colheita da Tarde”, 1971
Tinha frio o irmãozinho.
Louvado seja Deus, santo o seu nome!
O Pai Natal vem a caminho!
Na rasa tábua da mesa,
Não havia pão nem vinho.
Mais pobre é quem odeia, é quem despreza!
O Pai Natal vem a caminho!
Seca o leite à mãe viúva,
No murcho seio maninho.
Transformar-se-á em leite a água da chuva!
O Pai Natal vem a caminho!
Levantando em frente os braços,
Apalpa treva o seguinho.
Faça-se luz diante de seus passos!
O Pai Natal vem a caminho.
Ninguém vela o moribundo
No seu grabato de pinho.
Vai-se-lhe abrir, por fim, o Novo Mundo!
O Pai Natal vem a caminho!
Crucifica-se o inocente,
Perante o riso escarninho.
Sobe direito ao céu, corpo pendente!
O Pai Natal vem a caminho!
Sem chão, sem pão, sem paz, sem luz, sem ar,
Cada um morre sozinho.
Morrer será ressuscitar!
O Pai Natal tem bem que andar…
O Pai Natal vem a caminho!
José Régio, 16 Poemas dos Não Incluídos em “Colheita da Tarde”, 1971