(Enfermeira, Hospital Royal Marsden)
E por isso prolongam a sua vida de morte.
Eu e o meu tumor carinhosamente lutamos.
Esperemos que não saia uma dupla morte.
Preciso de ver o meu tumor morto
Um tumor que se esquece de morrer
E que em vez disso planeia matar-me.
Mas eu lembro-me de como se morre
Se bem que estejam mortas as minhas testemunhas.
Mas eu lembro-me do que disseram
Dos tumores que os haveriam de tornar
Tão cegos e tão tontos quanto tinham sido
Antes de nascer dessa doença
Que trouxe o tumor até à cena.
As células pretas hão-de secar e morrer
Ou farão o seu caminho a cantar em alegria.
Reproduzem-se tão calmas noite e dia,
Nunca se saberá, não o vão dizer.
Março 2002
Harold Printer, Várias Vozes,
Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2006
Esta é a homengem possível ao dramaturgo e poeta inglês Harold Printer, que faleceu anteontem, véspera de Natal, vítima de cancro do esófago, que lhe havia sido diagnosticado em 2002.
Este poema é o testemunho do início da luta que travou contra a doença e que o inutilizou para o trabalho. Nascera em 1930. Foi autor fundamental do teatro contemporâneo e foi agraciado com o Nobel da Literatura em 2005, que não pôde receber pessoalmente.