sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

À espera dos bárbaros

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O que esperamos nós em multidão no Forum?
Os Bárbaros, que chegam hoje.
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Dentro do Senado, porquê tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.
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Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?
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Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o Imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.
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E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis e de esmeraldas magníficas?
E porque levaram hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?
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Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.
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E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?
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Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.
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Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?
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Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.
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E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.


Constantin Cavafy, 90 e Mais Quatro Poemas,
Coimbra, Centelha, 1986 (trad. de Jorge de Sena)