quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Inventário
De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
A graça de camurça com que pisas.
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De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.
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A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.
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De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.
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José Saramago, Os Poemas Possíveis,
Lisboa, Editorial Caminho, 1981
Foto in http://nobel-prize.org
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Este é um belíssimo poema do Saramago, já tão esquecido como poeta.
Aqui se insere para comemorar, de alguma forma, o 10.º Aniversário da atribuição do Nobel ao autor do Memorial do Convento.