as mãos vazias sim. e o relógio no pulsoa dar conta das horas perdidas dos anos em cinza
das pegadas alisadas por dunas viajantes.
cavalgo então no dorso de uma ali por mira
mar senhor da pedra à vista e encontro
aquelas translúcidas camândulas
com que encho os bolsos e mato
a sede à saudade. Voo então no bico
das gaivotas até mais além bem dentro da infância
e pouso numa palmeira do adro da igreja à sombra
da qual aos domingos mulheres de negro vendiam
doces de gema níveos de açúcar e as mesmas bagas
minúsculas que trazíamos para casa num cone de jornal.
agora sim as mãos vazias e tanto bolso roto incapaz
de suster a memória dos dias afogueados a lata dos doces
comida da ferrugem e das formigas e a boca sedenta
de frutos sumarentos exilados do mercado e dos dias do senhor.
de repente topo de novo estas pequenas
drupas rosadas e que bem me sabem
uhmm camarinhas num poema de rosa alice.
Anthero Monteiro
(inédito e a propósito do poema postado imediatamente antes, de Rosa Alice Branco)

