sábado, 27 de dezembro de 2008

Cópula

No prado, onde as vacas imóveis,
esperam a passagem do comboio, ouve-se um ruído
de ramagens fustigadas pelo vento. Não sei se
é o outono que chega, ou se o verão ainda resiste
à chegada da breve estação. No entanto,
o comboio demora-se; e a vaca que não quis
esperar parou no meio da linha, como uma raiz
metafisica que se meteu na terra e a prendeu,
impedindo-a de fugir à investida da locomotiva.
(O resultado, meses depois,
foi um bezerro a vapor).

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Nuno Júdice, Poesia Reunida 1967-2000,

Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000