Negras das insónias,
Dos pensamentos arbóreos
Que se sucedem, saltitantes,
Sem atingir o final.
Negras,
Como negras são as vielas das cidades,
Onde teimam em vaguear
Seres errantes.
As minhas noites
São cor de cinza,
De um cinza desbotado e desfocado,
Como fotos velhas, e recordações...
As minhas noites
São amarelas,
Amarelas como as luzes e letreiros de néon,
Como o ouro sagrado
Das minhas ambições,
Como os pensamentos intensos e febris
Que por vezes dormem comigo no leito.
As minhas noites
São vermelhas,
Vermelhas como os desejos imensos
Encarcerados no peito,
Como o sangue que jorra, que pulsa, que corre!
Nas minhas noites algo vive
Que, à luz do dia,
Morre...
As minhas noites
São ventos
E são marés,
São flores,
São primavera.
Nas minhas noites tudo é
Eterno compasso de espera...
As minhas noites
São risos,
São choros,
Num tempo por desvendar,
São ciclones, turbilhões,
Mistérios por decifrar!
As minhas noites
São sede,
Constante,
Por satisfazer.
E há nelas uma vaga ideia,
Silhueta de mulher...
As minhas noites são lentas,
Absurdas,
Vazias,
Frias,
Até que o sono vier...!
Pensamento enevoado
Que depois se fecha a trancas,
As minhas noites, horas longas,
E nelas as angústias tantas!
As minhas noites são negras...
As minhas noites são brancas!