e a instilar gotas de vidro nos meus olhos
de que serve pôr-me a contar
inúmeros números inócuos e abstractos
se nada me abstrai dos contornos
que nem a esponja da noite absorve?
os espelhos multiplicam os teus olhos
e os teus olhos vão deflagrando no âmago dos meus
vagaroso cancro que não decide matar-me definitivamente
assisto assim ao silêncio
irmão de todos os teus silêncios
ao afago pungente de umas mãos de sombra
ao bolor que vai esborcinando o teu sorriso
aos ecos do que foi o eco dos teus passos
ao retalhar do burel por traças luminescentes
apuro o olhar
a intrusa afinal é outra
aquela que te sonega
aquela que apenas me traz
a indizível saudade de ti
tu adormecias-me
com o toque ilusionista dos teus dedos
essa outra diverte-se pela noite dentro
a cravar-me alfinetes nas pupilas