quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Esta noite: poesia no Púcaro's Bar


Exactamente como em todas as quartas, desde há uma dúzia de anos (já lá vão, portanto, muito mais do que 500 sessões! é obra!), repete-se o ritual das noites de poesia no Púcaro's Bar, ali nas arcadas de Miragaia, em frente à Alfândega: o Carlos Pinto toca a sineta, o silêncio instala-se paulatinamente e dá lugar às vozes dos diseurs. Uns mais teatrais, outros mais sóbrios, uns mais experimentados, outros mais incipientes, uns mais apegados aos clássicos, outros à provocação mais ou menos poética, uns que se lêem a si próprios, outros que divulgam os outros, uns que tentam uma linha temática, outros que logo descarrilam...
As quartas do Púcaro's são uma aventura de liberdade dentro do caos: uma surpresa ou um desastre, um salto no desconhecido que, apesar de tudo, se quer experimentar de novo na semana seguinte, uma invasão das quintas até às tantas ou até à hora que cada um entender.
Estão ali ao serviço, uns tantos habitués (e não falo de mim, que tenho vergonha): o Luís Carvalho que nos empolga com a sua maior paixão, que é a própria poesia; a Maria Beatriz e o seu enorme saco de livros, agora empobrecido, depois do assalto do século (onde já se viu um ladrão assim tão culto e tão insensível, capaz de delapidar assim o património poético da excelente leitora?); o Pedro Ribeiro, que é muito mais um Niagara do que um ribeiro, de tão irmanado aos poetas malditos; a simpatia do R.S. com os seus versos e as suas piadas e a sua viola trôpega (quem me dera tocar assim) e, ultimamente, a voz envolvente e sábia do actor Rui Spranger, que é só por si uma lição de bem-dizer... E muitos outros e outras que, de repente, nos surpreendem com os seus desempenhos poéticos ou musicais...
Por falar em música, há muito já que ali não se ouvem a voz e a guitarra acústica do Carlos Andrade, um companheiro quase obrigatório para quem diz poesia na zona do Grande Porto (fazes falta, Carlos, e quero que saibas que estamos impacientemente à tua espera!).
É por tudo isto que vale a pena regressar todas as semanas às arcadas de Miragaia. É a indispensável visita à fonte pura da inspiração e da vida. E não fora beber-se ali mais cerveja do que água, mais vinho do que laranjada, daria ao Púcaro's Bar o nome de uma das fontes que eram, na Grécia antiga, manifestações do divino e lugares sagrados onde se reuniam, cantavam e dançavam as Musas: Aganipo, Hipocrene, Castália ou Pirene.
Exactamente porque é reconhecido como um lugar sagrado, muitos lhe chamam já a Catedral, entenda-se: a Catedral da Poesia - o Púcaro's Bar.
Lá estaremos reunidos, em companhia das Ninfas e dos poetas que andamos a divulgar há tantos anos. Sem um obrigado de nenhum deles. Nós é que nos sentimos reconhecidos.


Ver localização do Púcaro's Bar in
http://www.escapadinha.pt/en/detalhes/20723

Foto in