segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A noite abre meus olhos


Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado
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Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes
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A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta
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o amor é uma noite a que se chega só
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José Tolentino Mendonça, A Noite Abre Meus Olhos,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2006
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O autor esteve nas últimas Quintas de Leitura (dia 23 de Outubro) do Teatro do Campo Alegre. Sendo crente (aliás é sacerdote), explicou porque era materialista a sua poesia. Gostei de ouvir alguns dos seus poemas nas vozes bem medidas e modelares da Filipa Leal, Sofia Grilo, Paulo Campos dos Reis e Pedro Lamares. No final, fui, como um adolescente, pedir-lhe um autógrafo para cada um dos livros que levei de casa. Já cá habitava há alguns anos...