segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Nocturno entre insectos

Corpo de pedra, corpo triste
Entre lãs com muros de universo,
Idêntico às raças quando fazem anos,
Aos mais inocentes edifícios,
Às mais poderosas cataratas,
Brancas como a noite, como a montanha
Despedaça formas enlouquecidas,
Despedaça dores como dedos,
Alegrias como unhas.


Não saber onde ir, onde voltar
Procurando os ventos piedosos
Que destroem as rugas do mundo,
Que bendizem os desejos cortados de raiz
Antes de dar a sua flor,
Sua flor grande como uma criança.

Os lábios querem essa flor
Cujo punho, beijado pela noite,
Abre as portas do esquecimento lábio a lábio.

Luís Cernuda, Um Rio, um Amor / Os Prazeres Proibidos,
Coimbra, Ariadne Editora, 2003
Fotos de http://www.literaturas.com/

Um dos maiores poetas espanhóis do século XX. Nasceu em Sevilha em 1902. Licenciado em Direito. Leitor de Espanhol na Inglaterra. Professor de Literatura Espanhola nos Estados Unidos e no México, onde morre em 1963.