sábado, 11 de outubro de 2008

Estrelas


O azul do céu precipitou-se na janela. Uma vertigem, com certeza. As estrelas, agora, são focos compactos de luz que a transparência variável das vidraças acumula ou dilata. Não cintilam, porém.

Chamo um astrólogo amigo:

«Então?»

«O céu parou. É o fim do mundo».

Mas outro amigo, o inventor de jogos, diz-me:

«Deixe-o falar. Incline a cabeça para o lado, altere o ângulo de visão».

Sigo o conselho: e as estrelas rebentam num grande fulgor, os revérberos embatem nos caixilhos que lembram a moldura dum desenho infantil.


Carlos de Oliveira, Trabalho Poético, Braga-Coimbra, Angelus Novus, 1996