quarta-feira, 15 de outubro de 2008
A rival
Se a lua sorrisse seria parecida contigo.
Tu deixas a mesma impressão
Que qualquer coisa bela mas aniquiladora.
Ambos gostam de tomar a luz de empréstimo.
A sua boca em O aflige-se com o mundo; a tua é insensível,
O teu maior dom é transformares tudo em pedra.
Acordo e vejo-me num mausoléu; tu estás aqui,
Os dedos sobre a mesa de mármore, à procura dos cigarros,
Rancoroso como uma mulher, mas não tão nervoso,
E morto por dizer qualquer coisa incontestável.
Também a lua rebaixa os seus súbditos,
Mas à luz do dia nem existe.
As tuas insatisfações, por um lado,
Chegam pela ranhura da caixa do correio com regularidade amorosa,
Brancas e vazias, expansivas como o monóxido de carbono.
Nenhum dia está a salvo das tuas notícias,
Andando por África, talvez, mas a pensar em mim.
Sylvia Plath, Ariel, Lisboa, Relógio d'Água, 1996
Auto-retrato de Sylvia Plath in