terça-feira, 28 de outubro de 2008

Eterna esperança


Era aos vinte anos, loira e fina... e amou!

Todos os dias, todos, à noitinha,

Um moço esbelto, de olhos negros, vinha

Falar-lhe como ninguém mais falou.


Mas uma noite, a palpitar, notou

Que ele mais negros os seus olhos tinha:

Ai! que negrume lhe toldou a alminha!

E o moço lindo nunca mais voltou!


Tem setenta anos! Pobrezinha e triste

Rezando e lendo, a acarinhar insiste

A falsa esp´rança que enganada a tem;


E cada noite, pensativa e absorta,

À serva diz, que vai fechar a porta:

- Não feches que ainda pode vir alguém.


Eugénio de Castro, Descendo a Encosta, (1924)

Foto in http://www.passeiweb.com/.

Coimbra, 1869 /1944. Introdutor do Simbolismo em Portugal. Oaristos (1890) é a sua obra decisiva. Miguel de Unamuno considerou Constança (1900) "a sua obra mais profundamente portuguesa".