tornava-te mais cálida, mais nua,
quando eu pensava nele... Imaginei-o,
à beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
ornar-te o busto de uma renda leve
e a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
era um convite lúcido às estrelas...
Imaginei-te assim à beira-mar,
só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
no desenho redondo do teu peito...
David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988,