quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Insónia


e não esqueço
e não esqueço
e não esqueço

por isso revoluteio
entra-me a dor de permeio
e nem sonhando adormeço

falta-me cantar ainda
teu olhar de angústia e mágoa
essa ânsia que não finda
essa volúpia de água

e sinto que tu só amas
o longe que não atinges
um reino cheio de esfinges
um lago feito de chamas

e vejo que me não vês
que perpassas outra vez
que o teu reino não é este
assim de tédio enfadonho

que tu vives mais a leste
ou a oeste
que interessa
mas que a vida do teu sonho
do teu adejo nocturno
não é essa
não é essa

e não durmo
e não durmo
e não durmo


Anthero Monteiro, Desesperânsia, V. N. Gaia, Corpos Editora, 2003