segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Nocturno


Espírito que passas, quando o vento

Adormece no mar e surge a lua,

Filho esquivo da noite que flutua,

Tu só entendes bem o meu tormento...


Como um canto longínquo - triste e lento -

Que voga e subtilmente se insinua,

Sobre o meu coração, que tumultua,

Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...


A ti confio o sonho em que me leva

Um instinto de luz, rompendo a treva,

Buscando, entre visões, o eterno Bem;


E tu entendes o meu mal sem nome,

A febre do Ideal que me consome,

Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém.


Antero de Quental, Sonetos, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1984