saltitam espertos
Mais três como os primeiros
— e eu de olhos abertos…
Sete oito nove dez
fugidos ao seu dono
Já são quarenta pés
— e eu à espera do sono…
Onze bolas de lã
tropeçando à marrada.
Já é quase manhã
— e quanto a dormir nada…
Uma dúzia balindo
(e só sabem balir)
Que rebanho tão lindo
de horas sem dormir!…
Mais cinco dezassete,
mais quatro vinte e um
Esta noite promete
— e eu sem sono nenhum…
Vinte e dois vinte e três…
E mais um par recolho
Já passaram mais dez
— e eu sem pregar olho…
Já lá vão trinta e quatro
se não erro ou não esqueço
Lá vem mais um pacato
— e eu cá não adormeço…
Chega meia centena
a tropeçar na lama
Quem de mim terá pena
sempre às voltas na cama?
Já são oitenta e cinco
mais quinze faz os cem
Eles brincam e eu brinco
sem ter sono também…
Ai se o lobo nocturno
atacasse… — que horror!
Por isso é que não durmo
É que eu sou o pastor…
Anthero Monteiro, A Lia Que Lia Lia, Espinho, Elefante Editores, 1999
Leia-se o que escreveu o crítico literário Serafim Ferreira a propósito deste livro em A Página da Educação:
«Antero Monteiro ou o gosto de escrever para crianças» in
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1026